ótima e nossa geração nunca será esquecida, pelo menos por um bom tempo.
André:
Uma questão é definitiva. E agora?
Muganga: (sorrindo)
Vamos fazer o que devemos fazer, esquecer e só.
João:
Isso está fora de questão. Já discutimos.
Muganga:
Mas isso foi antes. Agora, os fatos são outros. Antes a violência estava um tanto longe de nós. Agora está aqui.
João:
E daí?
Muganga:
E daí o que? Você pensa que revidando vai ficar tudo bem? Você esteve velando o corpo de Guilherme. Você teve a oportunidade de ver quantos de nós estiveram lá. E o resto do pessoal? Eu pergunto a todos vocês: onde estavam a maior parte de nossos colegas? Onde?? Escondidos dentro de casa, cagando nas calças de medo, olhando nas frestas das janelas com medo de saírem nas ruas, com medo de irem ao velório de um colega de faculdade que foi assassinado bruscamente pela polícia. É isso. É a realidade desse nosso país, um país em que a maioria é merda.
E são esses merdas que amanhã vão ocupar
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cargos de importância para a vida do país. E nós, que fomos solidários, que temos uma bagagem cultural de melhor qualidade, certamente estaremos em algum lugar bem distante, ou mortos, ou ainda caçados de nossos direitos políticos ou profissionais. O que nos resta, senão a “neocultura” completamente imperfeita e ignorante nas nossas cabeças? (toma um gole de cuba) É lamentável. Um dia, talvez, algum de nós tente escrever essa história. De alguma forma, nossos conhecimentos servirão, nem que seja para um pobre escritor. Nunca se esqueçam de uma coisa: a burrice tem uma grande virtude: é facilmente corruptível, por não ter conhecimento para criar. Infelizmente o mundo tem dessas coisas (nesse momento, tenta esconder suas lágrimas). Vamos esperar a primavera eterna. (toma um gole de cuba).
Gioconda:
Você está questionando nossas vidas de forma muito boba. Fica parecendo que, realmente, a única coisa importa é galgar os degraus do sucesso, custe o que custar, quando a verdade é outra. O importante são nossas cabeças. A maior dádiva que um ser humano pode ter é a de poder andar nas estradas de sua cabeça, ter para si o conhecimento. E são poucos os que têm. Nós estamos tentando, mas está sendo muito difícil e não vai ser agora
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